“A piscicultura pode ser uma ótima oportunidade de investimento”. “Uma atividade altamente rentável se bem executada”. “A produção de pescado não deve se restringir à Semana Santa”. Durante o 7º Dia do Peixe, evento ocorrido na manhã desta sexta-feira (07/11), no Recanto Novo Paraíso, em Bom Retiro do Sul, não foram poucas as manifestações de palestrantes, representantes de entidades e de lideranças que permitiram uma importante reflexão: a de que há espaço para que a setor avance.

O Dia do Peixe, evento itinerante que retornou neste ano ao Vale do Taquari, como parte da primeira Feira Estadual de Aquicultura (Aquibom), evento que segue até o domingo (09/11), sempre teve esse objetivo: reunir produtores, técnicos e autoridades, para construir juntos um amplo painel de debates sobre a cadeia produtiva, suas políticas públicas, possíveis encaminhamentos e alternativas de desenvolvimento. Buscando também celebrar e reconhecer a força da atividade.

Como parte desse contexto, a palestra ministrada pelo extensionista rural da Emater/RS-Ascar e zootecnista João Sampaio, apresentando o Diagnóstico da Piscicultura no Rio Grande do Sul — levantamento feito pela Instituição nos últimos meses — deu lastro à essa tese. Em sua fala, o profissional afirmou que no Estado são 41.758 piscicultores, sendo apenas 3.968 que se dedicam à produção comercial. A área total alagada destinada à comercialização, 17.281 hectares em um total de 48.528, também reforçam a ideia.

Em sua avaliação, Sampaio lembra que os estados vizinhos estão mais desenvolvidos nesse conjunto. Não por acaso, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a produção do RS é de cerca de 14 mil toneladas de peixes ao ano, um número bastante modesto se comparado ao do Paraná, que tem mais de 170 mil toneladas no mesmo período.  “E tudo isso justifica a Aquibom como essa vitrine de debate sólido para a aquicultura”, analisa o extensionista rural da Emater/RS-Ascar Diego de Oliveira.

Para Sampaio, a melhoria da cadeia produtiva não está relacionada apenas ao volume de pescados produzidos, mas também à qualidade como um todo do manejo, que se refletirá na entrega a um melhor produto ao consumidor, dados que apareceram em outro levantamento, o da Caracterização Socioprodutiva de Propriedades com Piscicultura no RS.

Neste diagnóstico, apontou-se desde a idade média dos piscicultores do Estado, que são em maior número na faixa entre 55 e 64 anos (28%), passando pela renda bruta anual com a piscicultura, com 34% produzindo para o consumo da família, até chegar ao número de integrantes da família que se dedicam à atividade. O detalhamento também destacou como os produtores realizam o manejo em questões como secagem do viveiro, entrada e saída da água e qualidade da água e outras tecnologias.

O que a pesquisa mostra, de acordo com o zootecnista, é que ainda há uma necessidade de qualificar o piscicultor em temas diversos, como genética, alimentação e ambiente. “O que se percebe é que há muita vontade de fazer o melhor, mas também certa limitação”, comenta o coordenador da Aquibom, Mauro Hauschild. No painel apresentado por Sampaio, um dado reforça essa ideia: o de que 64% dos piscicultores, formais ou informais, não possuem nenhum tipo de formação na área.

Nesse sentido, não apenas o Dia do Peixe, mas a Aquibom como um todo, buscam possibilitar uma “virada de chave” para a aquicultura regional, em busca de organização. “O Vale sofreu muito com as enchentes no ano passado, e o que desejamos é olhar para a frente”, garante Hauschild, que salienta ainda que esta é uma alternativa viável de diversificação de renda, com a feira sendo um passo a mais para transformar essa força local em realidade. “Essa é uma cadeia curta, com menor interferência de intermediários”, lembra.

Presente no evento, o diretor técnico e presidente em exercício da Emater/RS, Claudinei Baldissera, valorizou o trabalho construído a muitas mãos, para a consolidação do Dia do Peixe. “Preparar uma ação dessa envergadura não é uma tarefa fácil. Então, só temos a parabenizar, não apenas por abrir as portas da propriedade, mas também pela disposição de partilhar não só conhecimento, mas também entusiasmo e experiências”, frisou. “Como Emater, mantemos o compromisso de assessorar os piscicultores, como tem ocorrido há décadas”.

Outras lideranças, como o secretário da Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação (Seapi), Edivilson Brum, parabenizaram a iniciativa, dando destaque a outras ações da pasta que estabelecem diálogo com o tema, como é o caso do Programa Irriga+ RS, que destina recursos para projetos de reservação de água e irrigação. Já o chefe da divisão de Pesca e Aquicultura da Secretaria de Desenvolvimento Rural (SDR), no ato representando o secretário Vilson Covatti, também detalhou políticas públicas para a área que estão sendo formuladas pela pasta e que em breve devem ser divulgadas.

O evento contou ainda com uma mesa redonda, em que autoridades como a superintendente do Ministério da Pesca e da Aquicultura, Ana Spinelli, também participaram. Outras lideranças, como o integrante do Departamento de Infraestrutura e Usos Múltiplos da Água (Dinfra) da Seapi, Paulo da Silva, além do já citado Marlon Arenhardt, da SDR, e integrantes de entidades públicas e privadas também estiveram neste painel. Mais cedo, o representante da FAO, o engenheiro agrônomo Cláudio Pinheiro palestrou sobre Assistência Técnica Digital para a Produção Aquícola em Pequena Escala.

Com mais de 100 expositores, a Aquibom conta com ampla programação marcada por palestras, exposições, debates técnicos, oficinas e apresentações culturais, além de muita gastronomia, tendo como propósito conectar produtores, lideranças, empresas ligadas ao setor e instituições de pesquisa. Com debates sobre qualidade da água, policultivo de carpas, políticas públicas para o setor, tecnologias disponíveis e outros temas, a feira contará com shows nacionais e regionais, praça de alimentação, feira da agricultura familiar e outras atrações. A programação completa pode ser conferida no www.aquibom.com.br.