As doenças cardiovasculares são a principal causa de morte no Brasil, representando cerca de 30% dos óbitos, segundo o Ministério da Saúde1. Em muitos casos, a hipertensão arterial, o aumento da longevidade da população, alimentação inadequada, sedentarismo e histórico familiar de doenças cardiovasculares estão entre os principais fatores de risco. Neste Setembro Vermelho, mês de conscientização sobre a saúde do coração, Dr. Paulo Caramori, cardiologista intervencionista especializado em procedimentos minimamente invasivos e chefe do Serviço de Cardiologia do Hospital São Lucas da PUCRS, reforça a importância de adotar hábitos saudáveis como prevenção e destacam tratamentos inovadores para tratar condições cardíacas graves como, por exemplo, problemas nas válvulas do coração, hipertensão e ritmo cardíaco irregular.
Dados do IBGE mostram que a esperança de vida ao nascer no Brasil passou de 62,5 anos, em 1980, para 76,4 anos em 20242. Esse avanço reflete conquistas importantes em saúde pública e qualidade de vida. No entanto, viver mais também significa conviver por mais tempo com condições crônicas, como as doenças cardiovasculares, reforçando a necessidade de ampliar o acesso a tecnologias médicas inovadoras que contribuam para a prevenção, o diagnóstico precoce e tratamentos cada vez mais seguros e eficazes.
“A prevenção continua sendo a estratégia mais poderosa e acessível para combater as doenças cardiovasculares. Adotar um estilo de vida saudável com base em uma alimentação equilibrada, a prática regular de atividades físicas e sono de qualidade é o primeiro e mais importante passo”, comenta Dr Paulo Caramori, que também ressalta: “Para quem já enfrenta alguma condição cardíaca, a medicina cardiovascular está em constante evolução, oferecendo novas perspectivas, além de terapias com procedimentos minimamente invasivos para pacientes em todo o mundo”.
Neste Setembro Vermelho, reforçar a conscientização sobre a prevenção de doenças cardiovasculares e informar sobre novas possibilidades de tratamentos é fundamental para ampliar o acesso a essas inovações.
Denervação renal: um novo caminho para auxiliar no controle da hipertensão
A hipertensão arterial é um dos maiores vilões quando se trata de doenças do coração, contribuindo significativamente para o desenvolvimento de infartos, derrames e outras complicações cardiovasculares que têm o agravante de ser, muitas vezes, silenciosas.
Embora a maioria dos casos possa ser controlada com mudanças no estilo de vida e medicamentos, uma parcela dos pacientes enfrenta a chamada hipertensão não controlada, também conhecida como severa ou resistente, quando a pressão arterial permanece elevada apesar do uso de múltiplos fármacos. Para esses indivíduos, a denervação renal, realizada de forma minimamente invasiva, via cateter, surge como uma promissora alternativa3.
“Trata-se de um procedimento minimamente invasivo que atua sobre os nervos renais, que desempenham um papel crucial na regulação da pressão arterial”, explica Dr Paulo Caramori. Ao aplicar energia de radiofrequência ou ultrassom através de um cateter inserido na artéria renal, os nervos são seletivamente modulados, resultando na redução da atividade nervosa simpática e, consequentemente, na diminuição da pressão arterial. “A denervação renal representa um avanço significativo para pacientes com hipertensão resistente, oferecendo uma opção de tratamento que pode auxiliar na melhora do controle da pressão e, assim, reduzir o risco de eventos cardiovasculares graves”, afirma.
TAVi/TAVr: tratamento mais seguro e menos invasivo para tratar a válvula aórtica
A estenose aórtica, um estreitamento da válvula aórtica que dificulta o fluxo sanguíneo do coração para o corpo, é uma condição grave que, se não tratada, pode levar à insuficiência cardíaca e morte. Esta doença degenerativa acomete cerca de 2% a 3% dos pacientes idosos, com sintomas que podem surgir a partir dos 60, 65 anos4. “Tradicionalmente, o tratamento envolvia uma cirurgia de peito aberto para substituir a válvula danificada, um procedimento invasivo que impunha riscos significativos, especialmente para pacientes mais frágeis”, explica Dr. Caramori.
O procedimento TAVi/TAVr (do inglês Transcatheter Aortic Valve Implantation/Replacement), já está presente no SUS e permite que uma nova válvula artificial seja inserida através de um cateter, geralmente pela artéria femoral na virilha, sem a necessidade de abrir o tórax. “Isso significa menos dor, menor tempo de recuperação e um risco reduzido de complicações”, comenta o especialista. “O TAVr veio para tratar pacientes que, antes, eram considerados inoperáveis ou de maior risco para a cirurgia cardíaca aberta convencional, como aqueles com idade avançada ou que sofrem de doenças crônicas graves, como insuficiência renal”, complementa.
A estenose aórtica não tratada impacta drasticamente a qualidade de vida, com pacientes relatando fadiga, falta de ar e limitações nas atividades diárias. Com o TAVr, muitos pacientes experimentam uma melhora significativa nos sintomas, permitindo-lhes retomar atividades e desfrutar de uma vida mais ativa e plena.
O Marca-passo do futuro
Para pacientes com bradicardia – ritmo cardíaco irregular ou muito lento – o marca-passo é um dispositivo essencial para manter o coração batendo em um ritmo adequado. Por décadas, os marca-passos tradicionais exigiam a criação de uma “bolsa” sob a pele para abrigar o dispositivo e a inserção de fios (eletrodos) que se conectavam ao coração. Embora eficazes, esses dispositivos podiam estar associados a complicações relacionadas à bolsa ou aos eletrodos, como infecções, além de não serem indicados para muitos casos.
A chegada de um marca-passo pequeno, de tamanho semelhante a uma pílula e sem eletrodos, marcou um novo capítulo na tecnologia de estimulação cardíaca. Chamado de Micra e desenvolvido pela empresa americana de tecnologia em saúde Medtronic, o dispositivo chegou ao país no final de 2021. Globalmente, o número de procedimentos com o Micra já ultrapassa 250.000 casos, atestando sua eficácia e segurança globalmente.
Além de impressionar pelo tamanho, apenas 20 mm de comprimento, o dispositivo é implantado em um procedimento minimamente invasivo. Diferente dos marca-passos comuns que exigem cortes na região peitoral, o Micra é implantado diretamente no coração através de um cateter inserido pela veia femoral, localizada na perna do paciente, e guiado até o coração com o auxílio de uma bainha longa (introdutor).
Segundo Dr Caramori, “essa técnica cirúrgica minimamente invasiva não apenas elimina a necessidade de cortes próximos ao coração, mas também se mostra mais segura e possibilita uma recuperação significativamente mais rápida. Na maioria dos casos, a alta hospitalar ocorre em até 24 horas”.
“O Brasil deixou de ser um país em que a população morria mais cedo para se tornar um dos que mais rapidamente envelhecem no mundo. Esse processo de envelhecimento acelerado traz consigo desafios crescentes para o sistema de saúde. Nesse cenário, contar com tecnologias médicas de ponta é fundamental para enfrentar as doenças relacionadas à idade e garantir que o aumento da expectativa de vida venha acompanhado de qualidade nos anos vividos” completa o especialista.
A combinação entre prevenção, com qualidade de vida e diagnóstico precoce, além de acesso a tratamentos inovadores mostra-se essencial para mudar a realidade das doenças cardiovasculares no Brasil, sobretudo quando consideramos o aumento significativo da longevidade da população em nosso país. Ao reunir novas terapias e tecnologias menos invasivas, a medicina abre caminho para que mais pacientes tenham não apenas maior expectativa de vida, mas também qualidade no dia a dia, reforçando a importância de ampliar o debate e o acesso a essas soluções.
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